quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Body-Mind Centering

Body-Mind Centering: a relação entre o conhecimento e o sensível.

Fonte: DANÇA-EDUCAÇÃO: O CORPO E O MOVIMENTO
NO ESPAÇO DO CONHECIMENTO
IDA MARA FREIRE Cadernos Cedes, ano XXI, n53, abril/2001.



O outro sistema que buscamos para fundamentar o trabalho de
Dança-Educação intitula-se Body-Mind Centering, definido por Cohen (1997)
como uma jornada experiencial dentro do vivo e cambiante território do
corpo. O explorador é a mente, nossos pensamentos, sentimentos, alma e
espírito. Através dessa jornada, caminhamos para o entendimento de como
a mente é expressa por meio do corpo em movimento.
Nosso corpo, explica Cohen (op. cit, p. 1), move-se como nossa
mente se move. As qualidades de qualquer movimento são as manifestações
de como a mente é expressa através do corpo que está em movimento. As
mudanças nas qualidades do movimento indicam que a mente mudou o
foco sobre o corpo. Ao contrário, quando dirigimos nossa mente ou a
atenção para diferentes áreas do corpo e iniciamos o movimento a partir
dessas áreas, mudamos a qualidade do nosso movimento. Então, achamos
que o movimento pode ser um modo de observarmos a expressão da
mente por meio do corpo; isso também pode ser uma maneira de produzir
mudanças na relação mente-corpo.
O estudo Body-Mind Centering inclui a aprendizagem tanto experiencial
como cognitiva dos sistemas do corpo humano como, por
exemplo, esqueleto, ligamentos, músculos, nervos, gordura, pele, órgãos,
glândulas endócrinas, fluidos, respiração e vocalização; os sentidos e a
dinâmica da percepção e o desenvolvimento do movimento tanto ontogenético
como filogenético; a arte do tocar e a responsabidade. Os fundamentos
dessa técnica estão alicerçados nos vinte anos de experiências de
Bonnie Bainbridge Cohen e seus colaboradores e têm sido aplicados
por pessoas de diferentes áreas, como dança, atletismo, trabalho corporal,
educação física, terapias da fala, do movimento, ocupacional, psicoterapia,
medicina, desenvolvimento infantil, educação, arte visual e musical, yoga,
artes marciais, meditação e outras disciplinas, envolvendo corpo-mente,
assegura a autora (1997, p. 2).
A seguir, apresentaremos sinteticamente como se estrutura o Body-
Mind Centering. Primeiramente, descreveremos os sistemas do corpo. Cohen
elege dez sistemas no corpo humano, a saber: 1. Sistema esquelético: formado
por ossos e juntas, oferece ao nosso corpo a forma básica por meio da qual
podemos nos locomover no espaço. Por esse meio, a mente também se
organiza, promovendo suporte para nossos pensamentos. 2. Sistema de
ligamentos: os ligamentos mantêm os ossos unidos, guiam a reposta muscular
e suspendem os órgãos nas cavidades torácica e abdominal. Esse sistema
proporciona claridade e eficiência para o alinhamento e movimento dos
ossos e órgãos. 3. Sistema muscular: os músculos estabelecem uma rede
tridimensional para o suporte equilibrado de movimento da estrutura
esquelética, proporcionando a força elástica que possibilita a mudança dos
ossos pelo espaço. Por meio desse sistema, incorporamos nossa vitalidade,
expressamos nosso poder e nos engajamos num diálogo de resistência e
resolução. 4. Sistema orgânico: os órgãos mantêm as funções de nossa
sobrevivência interna – respiração, nutrição e alimentação. Além disso, nos
proporcionam o senso de volume, saciação e autenticidade orgânica. São
também os habitats primários ou ambientes naturais das nossas emoções,
aspirações e as memórias de nossas reações internas para nossas histórias
pessoais. 5. Sistema endócrino: a secreção produzida pela glândula endócrina
passa diretamente pela corrente sangüínea e seu equilíbrio ou desequilíbrio
influencia todas as células do corpo. Isso se caracteriza em um sistema de
silêncio interior, ondas ou explosões de caos/equilíbrio e a cristalização de
energia dentro da experiência arquetípica. 6. Sistema nervoso: alinhados
com o sistema endócrino, os nervos recebem e passam informações para
todas as células do corpo, coordenam essas informações em controle específico
ou em centros de retransmissão por todo corpo, pela coluna vertebral e pelo
cérebro. 7. Sistema de fluidos: os fluidos são os celulares, sangüíneos,
linfático, sinovial e cérebroespinhal. Esse sistema medeia a dinâmica da
fluência entre descanso e atividade. 8. Sistema Facial: por meio desse sistema
conectamos nossos sentimentos internos com nossa expressão externa. 9.
Sistema gorduroso: a gordura estática é armazenada como potencial
desconhecido ou represado e cria um senso de peso e letargia. A gordura que
é mobilizada expressa força, poder primordial e um senso de graça e fluidez.
10. Sistema dérmico: por meio da pele, tocamos e somos tocados pelo
mundo exterior, somos invadidos e protegidos, fazemos contatos e somos
contatados pelos outros. Cohen argumenta que, embora cada sistema
apresente separadamente suas próprias contribuições para o movimento
do corpo-mente, eles são todos interdependentes, juntos proporcionam
uma completa rede de apoio e expressão.
O desenvolvimento do movimento é outro aspecto relevante no
sistema Body-Mind Centering, que é trabalhado por Cohen (op. cit., p. 4), tanto
em termos filogenéticos como ontogenéticos. O desenvolvimento, explicita
a autora, não é um processo linear, mas ocorre através de ondas sobrepostas,
com estágios, contendo elementos de todos os outros. Em virtude de cada
estágio estabelecer e apoiar o seu sucessivo, qualquer salto, interrupção ou
falha para completar o estágio de desenvolvimento pode levar a problemas
no movimento e alinhamento na percepção, seqüência, organização,
memória e criatividade. O desenvolvimento material inclui reflexos
positivos, reações ajustadas e equilibradas e o padrão neurológico básico
que é pautado por padrões de movimentos pré-vertebrados e vertebrados.
O primeiro dos quatro padrões pré-vertebrados é a respiração celular,
seguido da irradiação umbilical para a boca e movimento pré-espinhal. Os
doze padrões de movimentos vertebrados são baseados nos movimentos:
espinhal, homólogo, homolateral e contralateral.
As dinâmicas da percepção: é por meio de nossos sentidos que recebemos
informação do ambiente interno e externo. Como filtramos, modificamos,
distorcemos, rejeitamos e aceitamos esta informação é parte do
ato de perceber. Tocar e movimentar são as primeiras ações para nos desenvolvermos.
Elas estabelecem a linha de base para a percepção futura por
meio do olfato, gustação, audição e visão. Pela exploração do processo
perceptivo, podemos expandir nossas escolhas para responder a nós mesmos,
aos outros e ao mundo no qual vivemos (idem, p. 6).
A respiração e a vocalização: nossa respiração é influenciada pelo
nosso estado fisiológico e psicológico e por fatores externos do nosso
ambiente. A maneira pela qual respiramos também influencia nosso comportamento
e funcionamento físico. No que diz respeito a nossa voz, por
meios de suas qualidades expressivas comunicamos para o mundo exterior
quem nós somos. Nossa voz reflete o funcionamento de todos os sistemas
do nosso corpo e o processo de integração do nosso desenvolvimento
A arte de tocar e ser responsivo: quando tocamos alguém, somos
tocados igualmente. Isto é uma exploração da comunicação por meio do
toque – a transmissão e a aceitação da fluência de energia dentro de nós
mesmos e entre nós mesmos e os outros (idem) .
O trabalho de Cohen pode ser de bom proveito para o ensino da
Dança-Educação, ao possibilitar aos estudantes um conhecimento tanto
cognitivo como experiencial do próprio corpo. Veremos no próximo item
como esse sistema tem sido aplicado em outras abordagens da dança
contemporânea.

 

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